quinta-feira, 3 de maio de 2012

Caracterização do bairro onde nasci. Cap. II


A maioria da população do Bairro tinha origem rural. Vinham do campo e estavam habituados a trabalhos rurais e com animais.

De uma forma geral as profissões existentes eram, em grande número, as ligadas às funções de operários não especializados. Nas profissões mais especializadas, havia alguns mecânicos de automóvel, electricistas, motoristas e funcionários públicos. Muitas das mulheres dedicam-se à costura e a trabalhos-a-dias (limpezas), outras estavam em casa a trabalhar como cabeleireiras.

Relativamente à dimensão do agregado familiar, era um número de 6 pessoas por agregado familiar, em média.
A estrutura etária era relativamente jovem com muitos casais em princípio de vida e com muitos filhos.

As rendas de 60$00, 80$00, 90$00 e 100$00 praticadas pelo Município, sendo simultaneamente as que se afiguravam mais ajustada à data, com o princípio dos reduzidos recursos económicos dos seus habitantes, e desta forma penso que os ajudava a ocupar com dignidade e normalidade os seus lugares na sociedade.

No que concerne equipamentos assistenciais, existiam uma Creche, um Jardim infantil e um Balneário público.

Relativamente aos equipamentos comerciais existiam 2 mercearias do Sr. Mota, onde a figura do Sr. Alfredo, sendo um ícone do bairro, chegaria até ao final do bairro em 2001 fazendo a gestão dos estabelecimentos comerciais. No bairro existia também uma padaria, um vídeo clube e 3 cafés. Todos os domingos o bairro recebia vendedores de vários pontos da cidade e de fora, constituíam uma praça onde se vendia vários produtos hortícolas, fruta, ovos, sapatos, roupa, tapeçarias, peixe, queijos enchidos, bolos entre tantas coisas que deliciavam quem passava. 

No que respeita a equipamentos culturais é de destacar o pavilhão polivalente, a onde se realizava a missa ao domingo e práticas desportivas como boxe, a população era brindada pela iniciativa do Sr. Moisés, com sessões de cinema, os jovens organizavam bailaricos, o clube Atlético da Musgueira Sul desenvolvia a prática do futebol, todos os anos pela época dos santos populares, uma comissão de moradores, requisitava o recinto à Junta de Freguesia do Lumiar à entrada do bairro para ali se realizar os bailes populares. Nesse recinto era organizado também torneios de futebol salão, onde tive a oportunidade de organizar um grupo de jovens, ganhar as restantes equipas, e representar a freguesia no Lumiar nos Jogos da Cidade de Lisboa, em 1988.
                                                                                                            
Foi a minha grande experiência, onde coloquei a minha capacidade de gestão de projectos e de trabalho em equipa; coloquei a minha capacidade de liderança e a minha capacidade de organização à prova:

A)      Na captação e selecção da equipa / elementos a participar;

B)     Táctica / estratégia de jogo a adoptar;

C)      Motivar a equipa a vencer dificuldades;

D)     Captar publicitários, para compra de equipamento desportivo e outras despesas inerentes à actividade desenvolvida.

O único equipamento escolar existente resume-se a escola primária nº 77

Os serviços de saúde prestados à população realizavam-se no Centro de Saúde aberto no Bairro da Musgueira Norte.
O Centro de Saúde para além de consultas de várias especialidades (pediatria, obstetrícia, clínica geral e doenças pulmonares) deu assistência materna – infantil; actuou no âmbito da medicina preventiva (educação sanitária, vacinações), fez visitas domiciliárias, forneceu medicamentos e providenciou o internamento em Hospitais, etc.

Para além deste tipo de equipamentos, existiram outros equipamentos urbanos que caracterizavam o espaço público do Bairro. Assim, existiam ali três chafarizes públicos que forneciam a água à população, os postes de iluminação pública, a casa do fiscal, ao início do bairro onde se pagava inicialmente a renda.

Com o passar dos anos, as habitações vão sofrendo alterações realizadas pelos seus locatários e assim o bairro vai perdendo a sua traça inicial, tudo isto se deve um pouco devido ao facto da tipologia das habitações, estas pela sua pouca área não correspondiam às reais necessidades da população. A escassez de espaço era a questão mais falada. Uma das acusações que era proferida pela população era o facto das casas não terem sido correctamente concebidas numa perspectiva ergonómica e desta forma não eram compatíveis com as necessidades.

Muitos quando tinham possibilidade financeira encontram a solução de dotar a casa com um 1º andar, soluções improvisadas que contribuíam para melhorar um pouco mais a qualidade de vida.

Um dos maus hábitos que desde o início se registou foi o de muita gente não pagar a renda, a água e luz invocando dificuldades económicas. 

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